terça-feira, 22 de julho de 2008

O Anel Perdido

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O Anel Perdido

Por Eckhart Tolle



Quando eu trabalhava como terapeuta e como professor espiritual, duas vezes por semana eu visitava uma senhora que sofria de câncer. Ela era uma professora de pouco mais de quarenta anos de idade, e que tinha recebido dos médicos poucos meses de vida. Às vezes nós conversávamos durante estas visitas. Mas, na maioria das vezes nós ficávamos em silêncio. E era durante estes períodos de silêncio que ela conseguia vislumbrar pela primeira vez a calma dentro dela mesma - algo que ela nunca percebeu antes, durante sua vida corrida de professora.

Certo dia, porém, eu cheguei à casa desta senhora e a encontrei em um estado de grande aflição e de raiva.

"O que houve?" - perguntei a ela. E ela então me disse que seu anel de brilhantes, que tinha grande valor monetário e também sentimental, tinha desaparecido. E ela estava certa de que quem havia roubado o anel tinha sido uma mulher que vinha à sua casa para cuidar dela por algumas horas todos os dias. Ela, continuando, disse que não conseguia entender como alguém pudesse ser tão sem coração a ponto de fazer algo odioso como roubar de uma mulher inválida e prestes a morrer.

A senhora, então, me perguntou o que eu achava e se eu achava que ela deveria falar com a empregada ou deveria antes chamar a polícia. Eu respondi que não podia dizer a ela o que fazer. Mas, mesmo assim, perguntei a ela o quão importante ela considerava um simples anel considerando tudo o que estava acontecendo com ela naquele momento.

"Você não está entendendo," ela disse. "O anel pertenceu à minha avó. Eu costumava usá-lo todos os dias, até que adoeci e minhas mãos incharam e ele não me servia mais. Era muito mais do que um simples anel para mim. Como eu poderia não estar aflita?"

A rapidez com a qual ela respondeu e a raiva e sua atitude defensiva eram sinal de que ela ainda não conseguia se ater apenas ao momento presente, conseguindo, assim, olhar para dentro de si mesma e separar a própria reação que teve ao evento (a perda do anel) do próprio evento e observar ambos de uma perspectiva mais tranqüila e serena.

Então, eu disse: "Eu vou fazer algumas perguntas a você. Mas ao invés de me responder em voz alta, quero que você tente encontrar as respostas dentro de você. Eu vou dar uma pequena pausa após cada pergunta. E quando uma resposta surgir em sua mente, pode ser que esta nem mesmo tome a forma de palavras."

Ela disse que estava pronta para começar. Eu perguntei: "Você sabe que vai ter que deixar o anel a qualquer momento, talvez dentro de muito breve. Então, quanto tempo você acha que precisa para se desligar por completo dele? Você vai deixar de ser quem é, vai se sentir diminuída de alguma forma se nunca mais voltar a ver o anel?" Houve uma pausa de alguns minutos após minha última pergunta.

Quando voltamos a conversar havia um sorriso no rosto da mulher, e ela parecia estar em paz.

"A sua última pergunta," disse ela, "me fez ver algo muito importante. Primeiro, consultei minha mente e minha mente disse 'Claro, claro que você se sentirá diminuída por tal perda.' Então, me fiz a pergunta novamente, 'Quem eu sou e tudo que sou ficará diminuído pela perda de meu anel?' Só que dessa vez eu tentei sentir ao invés de pensar na resposta. E, de repente, comecei a sentir quem eu realmente sou - meu espírito, minha essência. Eu nunca tinha sentido isso antes. Se eu posso sentir quem sou, então quem sou não será diminuído ou ferido. Nunca! E eu ainda sinto minha própria essência, serena e tranqüila, ao mesmo tempo que bem viva."

"Essa é a verdadeira alegria de viver," eu disse. "Você só vai conseguir experimentar essa sensação quando conseguir se desvencilhar de sua mente e de seus pensamentos. O "ser" deve ser sentido e não pensado. Ele não pode ser pensado. O ego não sabe da existência do "ser" porque o ego consiste de pensamentos e nada mais. O anel estava apenas em sua cabeça, enquanto você pensava nele, confundia-o com quem você é. Você pensava que o anel fazia parte do que você é - que parte de você se foi com o sumiço da jóia.

"Tudo aquilo que seu ego procura e aquilo que seu ego se prende são substitutos para o "Ser" que não consegue sentir. Você pode valorizar e cuidar de seus pertences, mas assim que você se ligar a estes, você pode ter certeza de que é seu ego falando - não você. E, na verdade, você nunca vai se sentir completamente ligada a alguma coisa. Você se sente ligada ao pensamento que transforma a tal coisa em parte do "Eu sou", do "Eu" ou do "Meu" que esta coisa representa para você. Assim que você aceitar uma perda, mas aceitá-la completamente, você terá vencido o ego. E quem você realmente é virá à tona - sua consciência emergirá."


"Agora," disse ela, "eu entendo algo que Jesus disse e que nunca fez muito sentido para mim antes. Ele disse que 'quando alguém roubar sua camisa, deixe que ele leve também seu casaco.'"

"Exatamente," eu completei. "É claro que isso não significa que você deva deixar as portas de sua casa destrancadas ou coisas do gênero. Mas a verdade é que quando algumas vezes aceitamos a perda de algo, nós estamos praticando algo infinitamente mais poderoso e positivo do que ficar 'chorando o leite derramado' e reclamando de nossa perda aos quatro ventos."


Nas últimas semanas da vida da mulher, ao passo que seu corpo se debilitava aos poucos, ela ficava cada dia mais radiante - como se uma luz brilhasse de dentro para fora de seu ser. Tanto, que ela deu muitas de suas coisas e bens pessoais para outras pessoas. Algumas destas coisas ela deu de presente à mesma mulher a quem ela tinha antes acusado de ter-lhe roubado o anel de família. E com cada presente que ela dava para alguém, sua alegria aumentava exponencialmente.

Quando sua mãe me telefonou para me avisar que ela tinha falecido, ela também mencionou o fato de que, após a morte da filha, haviam encontrado o anel de brilhantes no armário do banheiro da casa da falecida. A empregada devolveu o anel? Ou será que ele esteve ali o tempo todo? Ninguém jamais virá a saber a verdade.


Mas uma coisa sabemos com certeza: A vida lhe dá a experiência exata para que você evolua espiritualmente. E como você sabe que esta é a experiência que você precisa? Porque esta é a experiência que você está vivendo neste momento.

Então, quer dizer que é errado se orgulhar dos próprios bens materiais ou sentir inveja de pessoas que possuem mais que você? Claro que não. Esse orgulho, essa necessidade de se destacar perante os outros, esse aumento do que alguém é através de "ter mais que fulano ou sicrano" ou de "ter menos que fulano ou sicrano," estas coisas todas não são nem certas e nem erradas. Elas são o ego. E o ego não é errado - ele é apenas insconsciente. Assim que você começar a ser capaz de observar seu próprio ego, você estará começando a transpô-lo. Mas, não leve seu ego muito a sério. Sempre que você perceber que está agindo de acordo com seu ego, sorria. Muitas vezes você talvez até caia na gargalhada ao perceber as ações de seu ego. Normal. E você talvez se pergunte como foi que a Humanidade pôde ser subjugada por tal força inconsciente por tanto tempo?

Mas, acima de tudo, lembre-se sempre de que o ego não é algo pessoal. Ele não é quem você é de verdade. E se você acha que seu ego é parte de você e representa quem você é, tudo isso é, de novo, seu ego falando.


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Texto retirado do livro A NEW EARTH, de Eckhart Tolle
Traduzido por mim, Vivi Prado
A versão em português foi entitulada O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA




Foi um pouquinho trabalhoso traduzir esse texto de Eckhart Tolle. Mas sendo este livro algo que mudou minha vida (sem exageros!!), senti a necessidade de compartilhar com todos que passarem por aqui pelo menos um pouco das idéias simples e revolucionárias deste autor alemão.

Espero em breve trazer mais trechos do livro e colocar aqui.

3 comentários:

Vivi disse...

Hello, Mary.

I'm sorry I haven't been here lately. It's just that we had a minor flood here in my house and I couldn't get online sooner. Or at least get here and continue my blog.

I hope you are well.

Take care,


Vivi

Anônimo disse...

do you want to give this blog/site up?

Vivi disse...

No, Mary. I love my blog! :)

It's just that I'm so busy with work lately, I haven't had the time to post here more often. I miss it, though...

:)