Em seu livro: Jesus, A Story of Enlightenment (título em português não encontrado), o autor escreve um conto fictício sobre a jornada daquele que seria o Messias durante o que são considerados os anos perdidos da vida de Jesus Cristo, quando supõe-se que ele tenha viajado para bem longe de sua terra natal, em uma jornada até hoje desconhecida.
A história começa quando encontramos Jesus no topo de uma montanha gelada, provavelmente no Tibete, enquanto ele se consulta com um guru espiritual. Durante esta longa jornada, Jesus também encontra pelo caminho um exército de judeus fanáticos, se envolve com os Essênios (os quais possuíam os Manuscritos do Mar Morto) e eventualmente consegue chegar a um estado de união completa com Deus. Deepak Chopra conversou (abaixo) com a revista TIME sobre esta nova trama que acaba de publicar.
Repórter: O Jesus de sua história é muito interessante e divertido de se ler. Mas, onde podemos encontrar tudo isso que você escreveu na Bíblia?
Deepak: Nada do que escrevi está escrito na Bíblia. Na Bíblia nós temos Jesus ainda criança nas cenas de seu nascimento em Belém e, em seguida, com 12 anos de idade no templo em Jerusalém. Depois disso nós não vemos Jesus nas passagens bíblicas antes de ele completar 30 anos de idade. Então, eu pergunto: onde estava ele durante os 18 anos que não são mencionados na Bíblia?
Repórter: OK. Onde?
Deepak: Existe uma grande mitologia envolvendo estes “anos perdidos” da vida de Cristo. Grande parte dela envolve o Oriente. Nos anos quarenta, por exemplo, um estudioso alemão propôs que durante esses anos de sua vida Jesus teria viajado pela Rota da Seda, vivido na India e talvez tenha até visitado um monastério na cidade de Lhasa, onde existiam na época uma abundância de textos budistas. A igreja de São Tomás na província indiana de Kerala é o único lugar onde Jesus Cristo não é mostrado na cruz, sendo, invés disso, caracterizado em uma pintura onde é visto em uma pose serena e meditativa.
Eu também pesquisei extensivamente sobre esse período da história e procurei não apenas pelo contextos religioso, político e cultural da vida de Jesus – mas também estudei as várias seitas judias da época, incluindo, claro, os aspectos da ocupação romana. Tendo feito isso, entrei em um período de meditação, de incubação mesmo, e permiti que toda essa história aflorasse através de mim. O texto final se classifica dentro da categoria de “ficção religiosa”.
Repórter: Na sua versão dos “anos perdidos” da vida de Jesus, você se focaliza bastante na procura dele pela iluminação e transcendência espiritual, tanto no aspecto interno como externo. Você diria que esta é uma área na qual os evangelhos deveriam ser suplementados?
Deepak: Quando eu ainda era menino, eu estudava em uma escola cristã de missionários irlandeses. Nessa época, eu me via constantemente fascinado pelo Novo Testamento. Acho que li os livros do Novo Testamento umas mil vezes.
Um dia, no entanto, enquanto eu lia o Evangelho Segundo João 10:30, onde Jesus diz: “Eu e Deus somos um”. Observei que a multidão que o ouvia imediatamente quis apedrejá-lo pelo que consideravam uma blasfêmia. Mas o fato é que ele estava falando de um salmo que diz: “Vocês são Deuses, filhos do Altíssimo”, algo que ele disse àquelas pessoas que estava endereçado “àqueles para quem a palavra de Deus já chegou”. Jesus se via, obviamente, como um participante e equivalente desse grupo para quem a palavra de Deus já havia sido revelada. Interpretei, consequentemente, o significado de tais palavras como “aqueles que conhecem a Deus, são também Deus”. Na filosofia oriental, existe uma idéia pré-estabelecida do caminho que passa pela consciência pessoal e pela consciência coletiva e chega à consciência universal, o que chamam de Divino. A partir daí, concluí que Jesus deve ter vivenciado esse grau de consciência mais elevado. Meu livro conta a história dessa evolução.
Repórter: De fato, você escreveu que “fazer [de Jesus] o único filho de Deus deixa o restante da humanidade excluída de certa forma”.
Deepak: Sim, porque nós acabamos cultuando o mensageiro ao invés da mensagem. E assim, excluímos todas as teologias que já existiam antes de Jesus nascer.
Repórter: Mas isso, de Jesus ser o único filho de Deus que morreu para livrar o mundo de seus pecados, é algo que inspira os mais fervorosos seguidores de Cristo. Essa sua sugestão de que todos são Deuses, não seria considerada como uma heresia pelos cristãos ortodoxos?
Deepak: Pode até ser, pois os cristãos fundamentalistas sempre mencionam as palavras de Jesus nos evangelhos proclamando que: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém entrará no reino dos cues sem ser através de mim”. Todavia, eu pergunto: o que Jesus quis dizer com “Eu”? Na língua dos tempos de Jesus, o aramaico, língua na qual os evangelhos originais foram escritos, a palavra “eu” é traduzida como “o eu dentro do eu”. Então, deduz-se que ele estivesse falando de si mesmo, mas dentro do espírito universal. Nesse caso, não se pode englobar tudo o que Jesus quis exprimir se analisarmos apenas a duração de sua única experiência enquanto homem, ser humano, em nosso planeta.
Repórter: Mas a crucificação de Deus e a ressurreição de Jesus são ocorrências normativas no Cristianismo.
Deepak: Sim, porque todas as religiões se desenvolvem, se tornam exclusivas, se tornam divisionistas e repletas de conflitos.
Repórter: No seu livro há uma cena de crucificação, mas ela é relatada de certa forma de “segunda mão”, como algo que Jesus sonhou ao invés de vivenciado na própria pele.
Deepak: A linguagem simbólica da crucificação de Cristo simboliza a morte do antigo paradigma; a ressurreição é um salto na direção de uma nova forma de pensamento. A linguagem do Sermão da Montanha, por exemplo – se alguém lhe ferir, ofereça-lhe também a outra face – nesta passagem Jesus nos apresenta uma inovação criativa, e isto significa a extinção de velhas formas de pensamento que existiam até então, e o nascimento de outra completamente distinta. Todas as tradições espirituais possuem este conceito de morte e ressurreição, isso não é um aspecto exclusivo do Cristianismo.
Repórter: Você tem algum conselho para as pessoas que estão enfrentando a recessão econômica atual? O que Jesus diria a elas em sua opinião?
Deepak: Jesus diria: tentem reconhecer a diferença que existe entre a verdadeira riqueza e o dinheiro apenas. A verdadeira riqueza é a capacidade de realizar projetos de valor, a habilidade que temos de amar, de sentir compaixão por nossos semelhantes, a capacidade que temos de manter relacionamentos de fraternidade e de amor. Há atualmente em torno de 2.9 trilhões de dólares circulando pelos mercados financeiros mundiais. Menos de 2% desse total é empregado para proporcionar alimentos e outros benefícios para a humanidade. O restante desse capital é empregado para financiar o que eu considero um casino gigantesco onde se ganha e se perde dinheiro em um eterno jogo de cobiça e ganância. A cultura da qual fazemos parte atualmente favorece uma existência onde nós gastamos o que não temos para comprar coisas que não precisamos e para impressionar pessoas que não gostamos. E a situação se tornou tão caótica nos últimos tempos que nós estamos sendo praticamente forçados a encontrar o verdadeiro sentido de nossas vidas. Assim que conseguirmos fazer a transição de consumerismo para um melhor relacionamento com nós mesmos, com Deus e com nossos semelhantes, só então nós estaremos verdadeiramente vivendo como viveu Jesus e seguindo o seu exemplo.
Fonte: Time Magazine - Deepak Chopra on Jesus
By David Van Biema Thursday, Nov. 13, 2008
Tradução: Viviana
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